top of page

A Journey through Gerês

"Ao longo de cinco anos, José Carlos Costa usou a sua máquina fotográfica para aquilo que eu chamo escrutínio absortivo, como se simultaneamente olhasse para, em volta e através dos seus temas. As suas fotografias em media escala revelam quantidades de informação vertiginosas sobre as cenas de paisagens vazias ou cheias de composições visuais, paletas de escalas tonais, rios, ribeiras, árvores e pedras. A perspetiva obliqua resultante, em vez de congelar os seus temas, desacelerou-os apenas o suficiente para tornar o espetador consciente do ato de olhar. Os nossos olhos vagueiam através das suas composições elegantes, quase formalmente clássicas, canalizados através de linhas de perspetiva diagonais que permitem que as suas paisagens iludam a visão original. A superfície vítrea de uma queda de água, pode ser muito precisa mesmo quando as características percetuais e expressivas do tema, tais como a sua tristeza, ou paz de um lugar de repouso. Na realidade, nas fotografias de Costa, nenhuma paisagem, é reduzida à ilustração de uma tipologia, é antes apresentado completamente envolvido nas condições em e nas quais existe no mundo. A sua câmara sublinha tanto a singularidade como a contingência. Com uma aptidão única para representar os objetos como são vividos e o tempo como é sentido.

Neste contexto, convém reparar na relação característica entre universal e o particular numa obra de arte. O cientista, que encontra as suas chaves na observação do particular, tem, no entanto, de se ir afastando mais e mais da base das coisas experimentadas em concreto, voltando à árvore de Porfírio à procura de conceitos gerais. As suas propostas mais gerais são feitas, digamos, da casca da experiencia. Na obra de arte, as generalidades não ficam ocultas ao contemplar o particular, nem é necessário abandonar o reino do concreto para compreender as abstrações. Pelo contrário, as afirmações mais figurativas, abstratas, orgânicas do artista são as que os olhos do espetador mais diretamente recebem. Conceitos tais como grande e pequeno, alto e baixo, ativo e passivo, perto e longe, circundante e circundado são percebidos como propriedades sensoriais, enquanto o conteúdo mais especifico da temática exige recorrer aos conhecimentos, à aprendizagem, e à memória. As composições visuais nas imagens de José Carlos Costa, considera-se com frequência que a representação artística é uma espécie de cirurgia plástica que se aplica à matéria prima da experiência."

Adriana Henriques

bottom of page